22 de abril de 2009

Católica prepara parceria com fundação de Maria da Penha

Por Tiago Cisneiros

Na última sexta-feira, o coordenador da Pastoral, Padre Antônio Mota, e as professoras Elizabeth Siqueira (do curso de Letras) e Marília Montenegro (Direito) representaram a Católica em uma reunião com a farmacêutica Maria da Penha, no Hotel Recife Palace, em Boa Viagem. Na pauta do encontro, uma possível parceria entre a Universidade e a fundação de combate à violência doméstica que Maria da Penha pretende criar.
Embora esteja encontrando dificuldades no campo político para oficializar a fundação, Maria da Penha já definiu os principais pontos do projeto. “A ideia é contribuir com o poder público, com mecanismos técnicos-pedagógicos para conscientizar a sociedade e erradicar a violência doméstica contra a mulher”, explicou. Segundo Maria da Penha, a instituição deve trabalhar nas áreas de educação, segurança e saúde. “Queremos inserir, na base escolar, uma discussão sobre cultura de gênero. Também, vamos capacitar o pessoal da segurança pública quanto à maneira de se abordar e levantar a questão do sentimento da vítima e do agressor. Além disso, pretendemos qualificar os profissionais de saúde, no tratamento das vítimas de agressão”.
Entre as ações do projeto, está a criação da Ouvidoria do Agressor. O objetivo do orgão seria entender a complexidade e as dificuldades dos responsáveis pela violência doméstica contra a mulher. A professora Marília Montenegro, autora da tese de doutorado “Da Lei dos Juizados Especiais Criminais à Lei Maria da Penha: uma análise da violência doméstica contra a mulher”, concordou com a ideia de abrir espaço para escutar o agressor. “Precisamos nos preocupar com ele, que é a principal chave do problema. O governo só se preocupa em punir, e não em educar. Como a nossa sociedade é patriarcal, as coisas não vão mudar sem educação. Por isso, é importante conhecer o comportamento de quem comete a violência doméstica”, argumentou.
Outro destaque da fundação é o interesse pela situação dos filhos das vítimas de violência doméstica. “O número de órfãos é muito maior do que o de mulheres mortas. Não queremos que o Estado indenize as famílias, porque isso gera uma fábrica de órfãos. As pessoas têm mais filhos, para, depois, receberem mais dinheiro. Nossa intenção é que os órgãos já existentes trabalhem e aprofundem essa questão”, explicou a coordenadora pedagógica do projeto, Regina Célia Almeida. Segundo Maria da Penha, os filhos são a principal preocupação da vítima de violência. “Quando vi que ia morrer, pedi a Deus que não deixasse minhas filhas órfãs. Hoje, eu nunca poderia ser uma pessoa triste, porque meu pedido foi atendido, apesar de todas as dificuldades”, desabafou.
Sobre a parceria com instituições de ensino, Maria da Penha destacou: “Nossa expectativa é montar uma rede de ação, através de uma equipe de professores de escolas e universidades, para sistematizar e discutir a engenharia da violência doméstica”. Ela revelou que a ideia de criar a fundação surgiu da capacitação dos professores da Universidade Federal do Ceará sobre o racismo. “Vi, pela televisão, que todos os docentes estavam preparados para abordar essa questão. Então, decidi fazer o mesmo em relação ao respeito ao gênero”.
O Padre Antônio Mota falou, durante a reunião, sobre o interesse dos jesuítas pela formação social nas universidades e os resultados observados na Católica. “Em pesquisas coordenadas pelo professor Libório, descobrimos que a maioria dos alunos considera a família como centro. Na Unicap, precisamos enfrentar o debate dessas questões. Os jovens, embora tenham uma repressão silenciosa, estão dispostos a isso”, afirmou. Ele lembrou, ainda, a abordagem da violência doméstica e da Lei Maria da Penha na disciplina Humanismo e Cidadania, oferecida em todos os cursos da Universidade.
Durante a reunião, foi colocado, como ponto fundamental da possível parceria, a inserção da temática da violência doméstica nos diversos setores pedagógicos da Católica. A professora Elizabeth Siqueira destacou a importância de gerar espaço para o assunto. “O interessante deste projeto é a interdisciplinariedade, com a participação de alunos, professores e funcionários, na discussão de um problema real”, avaliou.
Maria da Penha explicou, no encontro, as dificuldades encontradas para inserir a questão do gênero nas grades das escolas municipais e estaduais do Ceará (estado em que nasceu e onde pretende criar a sede da fundação). A professora Marília Montenegro prometeu mobilizar a Astepi (Núcleo de Prática Jurídica da Católica) para levar adiante o projeto. “A Astepi trabalha bastante na área de família e, agora, vai ajudar Maria da Penha a dar entrada no Ministério Público de Pernambuco, para fazer com que a cultura de gênero se torne parte do currículo escolar”, declarou.
As professoras Elizabeth Siqueira e Marília Montenegro e o Padre Antônio Mota aproveitaram a ocasião para divulgar os projetos sociais da Universidade Católica de Pernambuco. Além dos 12 núcleos jurídicos que atendem às comunidades carentes do Recife, foram abordadas as clínicas de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Psicologia da Unicap e o projeto do Movimento Fé e Alegria no município de Vazantes, no Ceará.
No término do encontro, Maria da Penha recebeu, das mãos do Padre Antônio Mota, a Comenda Asa Branca, instituída em 2009 e oferecida pela Católica às homenageadas da Semana da Mulher.
No dia 24 de abril (sexta-feira), será realizada, na Católica, a reunião oficial sobre a parceria, com a presença de Regina Célia Almeida, representante de Maria da Penha e coordenadora pedagógica do projeto da fundação. Além do Reitor Padre Pedro Rubens, vão participar do encontro o Pró-reitor Comunitário, Padre Miguel Oliveira, o Padre Antônio Mota e uma representante da Astepi.

(Fonte : http://www.unicap.br/assecom2/boletim/2009/abril/boletim_20.04.2009.html#1)